sábado, 29 de setembro de 2007

Dois Quartos Rachados


Ontem era eu,
Hoje sou metade,
Amanha, serei dois quartos?
Dois quartos rachados,
Do poço de suspiros sangrados,
Que caíram na palma da tua mão.

Deixei cair o meu peito,
Por entre a noite dos teus cabelos,
E ele perdeu-se, no cinzento do nosso futuro.
O meu vácuo cresce e o ar acaba no teu corpo,
Que me corrói os lábios, mortos de te tocar.

Desiludes-me, caí por te provar,
Não tenho culpa,
Já estava morto por te ver.

sábado, 22 de setembro de 2007

Cinzas, Estagnação Sentida

Tenho cinzas na boca,
Sabe a morte a pele que beijo,
Sinto frio o toque quente
Das mãos que me esmurram o rosto de carícias.

Beija-me! Arranca - me este frio!
Tráz - me acidez aos cortes antigos!
Corta-me de novo!
Quero deixar de sentir nada…

O frio queima-me,
O quente escalda-me.
Assusta-me o nada, vácuo de inexistências moribundas,
Que me marca os olhos com espinhos de silvados secos de sentir.

Vou guardar os espinhos nas minhas mãos,
Aperto com força, espectro de falta do vermelho rubor,
Que se instala no meu peito,
Mausoléu, igreja sem o toque alegre dos sinos,
Estagnada na inexistência que é ser alguém sem o ser verdadeiramente…

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Extracto do Ser que sou Eu


A pele arde-me nos teus beijos.
Crava as tuas unhas,
Verniz vermelho de desilusão,
Nos ossos fracos das minhas asas enegrecidas,
Poeira da existência que o acaso deixou em mim.

Hoje vi-me no espelho,
E contorceu-se na minha cara,
Um sorriso maníaco de piedade,
Pela mixórdia de cortes putrefactos,
Que chorava do outro lado do vidro rachado.

Morde-me os braços! Rasga a carne!
Parte-me as mãos! Canta para mim
Enquanto me cortas a garganta,
Para dela não mais sair
A ultima coisa que queres ouvir.
Amo-te.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Hoje Caí e Chorei por Ti

Hoje tropecei no passeio e caí,
Partiu-se o ovo que levava apertado no peito,
E escorregaram lágrimas de tulipa dos meus olhos,
Hoje caí e chorei por ti.

Levas-te as minhas mãos torcidas,
Os meus ossos fracos e sorriso que morreu,
Levas-te o sal das minhas feridas,
Pregando com um beijo a tua marca no meu caixão.

Tapaste-me os olhos com a tua mão,
Fizeste promessas de passeios,
Naquele campo de amores-perfeitos que desenhei para ti,
E de castelos de prata na praia que te cantei ao ouvido,

Não vejo sem esse toque de seda,  
Tenho frio de te sentir ao longe,
Perto arde-me o peito pelos teus beijos de sabor a limão,
Presos no silvado do Outono que já passou.

Porque te foste com o tempo,
Que secou a minha pele de não te tocar,
Os meus pés murcharam na relva seca e amarelada,
No jardim dos nossos sonhos,
Santuário há minha falta de mim…

domingo, 9 de setembro de 2007

Semente de Pai - Careca


O meu olhar pousou em ti e engoli aquele espinho,
Que se foi pelas minhas veias putrefactas,
Fazer ninho na minha mão, como que para não te tocar,
És beco sem saída de quem procura um novo nascer,
Sinal vermelho, poço sem fundo,
Para mim que quero provar o mel de tulipas púrpura.

Hoje fui ver o rio, junto da arvore caída de ramos ressequidos,
Estava cansado, encolhi-me no seu seio e dormi para sempre,
Aconchegado pelas raízes podres e ramos caídos, descansei.
Queria ser a ultima folha desta arvore moribunda,
Ultima a ver a sua queda, o seu cessar de existir, do topo dos seus ramos
E depois voar, deixar o vento tomar o meu corpo frágil e quebradiço, levando-me para longe, com a historia grande,
Daqueles que caíram com o coração batendo nas mãos.

Queria ser semente de pai - careca, arrancado por uma menina,
Daquelas pequeninas, perdidas na sua inocência de alma transparente,
Sopra menina! Atira-me para longe!
- Oh! Porque é que o vento não me leva os cortes menina?
- Para que queres os pulsos sarados? Não tens por quem os cortar.
- Tão verdade…

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Dói-me o peito

Esta frio, a noite canta, o vidro aquece,
As mãos sentem, o ar esquece, o ser esmorece.
A razão perde-se por entre o aperto dos corpos que agora são um,
Vive-se a loucura trazida pela luz da lua que arranha a minha pele
E acalma-me o ardor das feridas, morfina de prata.

Maldição! Porque és efémera ó noite?
Drogando-me os olhos, escondendo-lhes as feridas,
Se quando morres o sangue volta a jorrar?
Merda! O sol queima-me a razão,
Dói-me o peito, a ferida que nunca sarou…

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Perdi-me de mim


A vista é bonita de cima deste muro.
Contemplo o que me espera se cair,
Os segundos de ansiedade antes de o corpo repousar,
Partido entre o chão e o céu, livre do arranhar de vidros
Para sempre!

O modo suspenso do olhar que lanço nos reflexos
Das pessoas que passam em baixo escalda-me o sentir.
Vagas de luminescências dançam-me nas pálpebras,
Corre para perto de mim, abraça-me, tenho frio,
Fica mais um pouco, corre pelas luzes comigo,
Dá-me a mão, não me seguro sem o calor de quem me quer.
Não quero o gosto que me deixaram na boca, tenho que voar,
Partir para outra janela e ver os montes de uma maneira diferente.
Leva-me para outra praia, para eu provar a água que nunca ouvi.

Alguém me quer?
Nem eu me quero a mim…